Centenário da Revolução de Outubro
Primeiro Colóquio de Lisboa
Primeiro Colóquio de Lisboa
Arnaldo Matos
Respondendo ao meu convite do passado
dia 30 de Dezembro publicado neste jornal, cerca de cinquenta pessoas, um terço
das quais mulheres, compareceram na sede do Partido na Avenida do Brasil, em
Lisboa, para participarem activamente no primeiro colóquio sobre a Grande
Revolução de Outubro de 1917, realizado na capital.
Em menos de uma semana, um comité
espontâneo de militantes do Partido, dirigido pela camarada Rita, organizou a
sala do colóquio para receber condignamente os participantes, engalanando-a com
flores e faixas de palavras de ordem políticas alusivas aos temas essenciais
que ali iriam ser – e foram - discutidos.
Compareceram militantes e simpatizantes
do Partido e um grande número de camaradas que me têm criticado com desassombro
no decurso do último ano. Todos foram fraternal e efusivamente recebidos,
mostrando sem hesitação a alegria de poderem voltar a uma casa que sempre foi e
será deles, como o é de toda a classe operária portuguesa e do movimento
comunista internacional.
Aproveitei para fazer uma referência à
mensagem do camarada João Morais, do Porto, que será publicada na íntegra no
seguimento desta crónica, e, depois de elogiar e agradecer a dedicação dos
camaradas, na sua maioria mulheres, na preparação do espaço público da
discussão e saudar todos os camaradas presentes, com especial afecto para os
meus críticos, procedi ao desenvolvimento coloquial das Teses da
Urgeiriça sobre a Grande Revolução de Outubro de 1917, Teses que têm
sido recebidas com verdadeiro entusiasmo em Portugal e no estrangeiro.
Desta vez, desenvolvi toda a minha
argumentação a partir de uma breve análise da situação económica e social da
Rússia czarista, chamando a atenção para o poderoso desenvolvimento do
capitalismo imperialista russo, centrado em três regiões do império dos Romanov
– o golfo da Finlândia, com a capital russa de Petrogrado, a região de Moscovo
e Vladimir e a zona do norte do Mar Negro e do Mar de Azov, alertando para o
facto de que as relações fundiárias burguesas mal estavam a nascer nas imensas estepes
russas que se estendiam por mais de noventa milhões de quilómetros quadrados,
desde o leste da Europa, na Ucrânia, ao Oceano Pacífico, em Vladivostoque, área
em que mais de 60% de todas as terras revestia ainda a forma de decomposição da
antiga propriedade comum do solo, a obshchina.
Da breve análise da situação das
relações económicas e sociais de classe na Rússia czarista em 1917, refluí para
o Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels, publicado
em Fevereiro de 1848, e que tem sido o livro básico de estudo do Marxismo no
Partido, depois da vergonhosa deserção da quadrilha de Garcia.
Passámos então a discutir
fraternalmente, com interrupções, perguntas e respostas, na inteira liberdade
de todos os presentes.
Li aos meus camaradas aqueles dois parágrafos
do Manifesto do Partido Comunista, constantes do Prefácio da Edição
Russa de 1882, assinado conjuntamente por Marx e Engels, e que, na minha
modesta opinião, contêm a chave para a compreensão da natureza de classe da
Grande Revolução de Outubro.
Transcrevo aqui esses dois parágrafos,
para que os meus leitores, especialmente aqueles que estiveram comigo entre as
16H00 e as 20H00 de ontem, na sede do Partido na Avenida do Brasil, em Lisboa,
possam exercitar por si sós a descoberta das conclusões que os comunistas de
hoje devem extrair da aplicação do Marxismo ao estudo crítico da Grande
Revolução de Outubro.
O Manifesto
Comunista tinha por tarefa proclamar o desaparecimento inevitável e
próximo da propriedade burguesa. Mas, na Rússia, ao lado da especulação
capitalista em desenvolvimento febril e da propriedade fundiária burguesa em
vias de formação, mais de metade da terra é possuída em comum pelos camponeses.
Põe-se a questão de saber se a obshchina russa, forma em decomposição
da antiga propriedade comum do solo, passará directamente à forma comunista, ou
se terá de passar primeiro pelo mesmo processo de dissolução que sofreu no decurso
do desenvolvimento histórico do Ocidente.
A única resposta
que hoje se pode dar a esta questão é a seguinte: se a revolução russa der o
sinal para uma revolução proletária no Ocidente, de modo a que ambas se
completem, a actual propriedade comum da Rússia poderá servir de ponto de
partida a uma revolução comunista.
Terminada a exposição da matéria, um
pouco mais longa do que na realidade pretendia, choveram, com imensa alegria
minha, perguntas de todos os quadrantes, onde me vi forçado a examinar teses de
Lenine, Estaline e Mao Tsé Tung sobre as quais ainda não terminei os meus
estudos.
Saí muito feliz do nosso Primeiro
Colóquio de Lisboa sobre o Centenário da Revolução de Outubro, convicto
de que há já no nosso Partido um conjunto de camaradas, incluindo alguns muito
críticos, capazes de cumprir a tarefa urgente de levar de novo ao coração da
revolução proletária em Portugal e em todos os outros Países, a teoria
científica do Marxismo.
Gostei de vê-los empolgados no
cumprimento das nossas tarefas de marxistas sob o lema de Proletários
de todos os Países, Uni-vos!.
Estes Colóquios podem fazer-se em toda
a parte, junto das operárias e dos operários nas fábricas, das assalariadas e
dos assalariados rurais nos campos, e da juventude nas escolas. Estamos a
seguir o bom caminho!
No hay comentarios:
Publicar un comentario